sexta-feira, maio 12, 2006

O delírio das massas...

Freud, em “O mau estar da civilização”, disse que a religião era o delírio das massas...isto em meados do século XX, quando ainda existiam valores e moral e alguma crença de que o objectivo de vida era um pouco mais do que apenas viver...apostava-se num ser divino que supostamente nos colocava sob certos e determinados padrões de vida, baseados em regras muitas delas anti psique, mas que nos permitiam viver de uma forma mais ou menos saudável em sociedade e mesmo connosco próprios...mantendo alguma estabilidade que nos permitiam passar ao lado das chamadas doenças do novo século, as depressões, os stresses e as crises de meia idade, principalmente as fora de tempo...No fundo, a visão até que podia estar errada mas permitia-nos chegar ao destino de uma forma pouco sinuosa...pouco atribulada...

Mais de meio século depois, no início do século XXI a situação é ligeiramente diferente...para não dizer completamente...continuamos a viver sob um delírio universal, mas já não divino...surge um novo renascimento, qual Da Vinci ou Michelangelo, substituímos Deus pelo homem e apostamos em nós próprios...colocamo-nos no centro do universo, e vai daí passamos a viver sem qualquer moral, sem qualquer esforço porque estamos convencidos de que temos todos o mesmo direito em ser felizes...custe o que custar, pise-se quem pisar, avance-se por onde se avançar...vivemos com base no fútil, na imagem, no efémero...principalmente neste último...

A sociedade actual, principalmente a faixa etária dos 20 aos 40 anos da parte ocidental do globo, vive acreditando apenas em si próprio...troca-se o amor ao próximo pelo amor próprio, investe-se em ginásios e Kick Boxing, Anti-depressivos ou drogas leves, passeios à beira-mar em noites quentes de Verão e muito, muito chocolate, Internet´s , Rave Party’s, consumo e mais consumo, uma auto estima do tamanho do mundo e numa série de outras coisas que nos colocam a viver...saudavelmente? (tenho as minhas dúvidas)...mas sozinhos...Invertemos a nossa posição a toda a hora, porque nos deixamos levar pelo momento...apaixonamo-nos a cada esquina, a cada hora, a cada instante porque continuamos a viver com instintos carnais, com necessidades básicas e sem grande controlo sobre o nosso id, mas achamos por bem andar a brincar um pouco com a vida, substituindo tudo e todos por um desejo incompreensível de mudança rápida em tudo aquilo onde estamos inseridos...qual Midas, qual quê, transformamos tudo onde tocamos em ouro mas queremos sempre mais...queremos diamantes...mas lá está...a ganância quase sempre não nos leva a um fim risonho...não subsistimos a nada, porque o próximo é que não quer ver o que nós já vimos vai para anos, e passamos completamente ao lado do facto de cada um ser igual a si próprio...não temos o mínimo de consideração pelo próximo, utilizando-o apenas quando este ainda é um brinquedo novo...trocando-o rapidamente mal surge modelo novo...um pouco a jogar ao toca e foge, um pouco a jogar ao gato e ao rato...excluimos o romantismo por supostamente fazer mal, criámos o absolutismo/narcisismo que, perceba-se a ironia, nos faz um bem terrível...transformando-nos em deuses intocáveis...

Banimos definitivamente a palavra adaptação do nosso dicionário, recusamo-nos a ceder, a pedir desculpa, a engolir um orgulho besta que se apodera de nós porque estamos plenamente convictos de que somos os maiores. Não deu agora, dá depois, não deu com este dá com aquele, não deu assim, dá assado...

Dever-se-á ao tempo? Pode ser. Para mim faz parte do processo natural da coisa. O Renascimento está de volta, mas desta vez não se apostou na arte nem na poesia. Apostou-se em qualquer coisa que nos levará a um destino do qual eu sinceramente tenho medo...muito medo mesmo...

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